NÃO SE PODE CALAR SOBRE A VERDADE

Uma nota de reflexão 

No último ano, dentro e fora do Sínodo, Padres Sinodais e leigos levantaram suas vozes para expor suas ideias. O grupo progressista, organizado, articulado, insidioso,  fez todo o possível para que a heterodoxia triunfasse. Outro grupo, bravamente, tentou, e até certo ponto conseguiu, que o mal não fosse oficializado. Muitos, por várias razões, preferiram ficar calados. O silêncio pode significar prudência ou covardia. Neste sentido parece-nos interessante meditar nas palavras de São Gregório Magno no interessante artigo do prof. Felipe Aquino. Afinal, como diz o autor no final do artigo, citando o catecismo, “a salvação está na verdade”.

E é a verdade que pedimos a nossos pastores. (Valter de Oliveira)

 

Prof. Felipe  Aquino

No domingo (04/10/2015) a Liturgia das horas trouxe um texto de São Gregório Magno (540-604), papa e doutor da Igreja, o gigante da Igreja que tomou a peito a evangelização dos bárbaros que dominaram o império romano. O texto foi retirado da “Da Regra Pastoral”, (Lib. 2,4: PL 77,30-31), e fala da necessidade dos pastores não deixarem de pregar a verdade de Deus ao povo. Vale a pena meditar suas palavras:

“Seja o pastor discreto no silêncio, útil na fala, para não falar o que deve calar, nem calar o que deve dizer. Pois da mesma forma que uma palavra inconsiderada arrasta ao erro, o silêncio inoportuno deixa no erro aqueles a quem poderia instruir. Muitas vezes, pastores imprudentes, temendo perder as boas graças dos homens, têm medo de falar abertamente o que é reto. E segundo a palavra da Verdade, absolutamente não guardam o rebanho com solicitude de pastor, mas, por se esconderem no silêncio, agem como mercenários que fogem à vinda do lobo.

O Senhor, pelo Profeta, repreende estes tais dizendo: Cães mudos que não conseguem ladrar (Is 56,10). De novo queixa-se: Não vos levantastes contra nem opusestes um muro de defesa da casa de Israel, de modo a entrardes em luta no dia do Senhor (Ez 13,5). Levantar-se contra é contradizer sem rebuços aos poderosos do mundo em defesa do rebanho. E entrar em luta no dia do Senhor quer dizer: por amor à justiça resistir aos que lutam pelo erro.

Quando o pastor tem medo de dizer o que é reto, não é o mesmo que dar as costas, calando-se? É claro que se, pelo rebanho, se expõe, opõe um muro contra os inimigos em defesa da casa de Israel. Outra vez, se diz ao povo pecador: Teus profetas viram em teu favor coisas falsas e estultas; não revelavam tua iniquidade a fim de provocar à penitência (Lm 2,14). Na Sagrada Escritura algumas vezes os profetas são chamados de doutores porque, enquanto mostram ser transitórias as coisas presentes, manifestam as que são futuras. A palavra divina censura aqueles que veem falsidades, porque, por medo de corrigir as faltas, lisonjeiam os culpados com vãs promessas de segurança; não revelam de modo nenhum a iniquidade dos pecadores porque calam a palavra de censura.

Por conseguinte, a chave que abre é a palavra da correção porque, ao repreender, revela a falta a quem a cometeu, pois muitas vezes dela não tem consciência. Daí Paulo dizer: Que seja poderoso para exortar na “sã doutrina” e para convencer os contraditores (Tt 1,9). E Malaquias: “Guardem os lábios do sacerdote a ciência; e esperem de sua boca a lei porque é um mensageiro do Senhor dos exércitos” (Ml 2,7). Daí o Senhor admoestar por meio de Isaías: “Clama, não cesses; qual trombeta ergue tua voz” (Is 58,1).

Quem quer que entre para o sacerdócio, recebe o ofício de arauto, porque caminha à frente, proclamando a vinda do rigoroso juiz, que se aproxima. Portanto, se o sacerdote não sabe pregar, que protesto elevará o arauto mudo? Daí se vê por que sobre os primeiros pastores o Espírito Santo pousou em forma de línguas; com efeito, imediatamente impele a falar sobre ele aqueles que inunda de luzes”.

Sobre este mesmo assunto o Concílio Vaticano II disse:

“Grassando em nossa época gravíssimos erros que ameaçam inverter profundamente a religião, este Concílio exorta de coração todos os leigos que assumam mais conscientemente suas responsabilidades na defesa dos princípios cristãos”. (Apostolicam Actuositatem, 6)

E o Documento de Santo Domingo, pediu para:

“Instruir o povo amplamente, com serenidade e objetividade, sobre as características e diferença das diversas seitas e sobre as respostas às injustas acusações contra a Igreja” (n.141);

Nos nossos dias vemos a vida “jurada de morte”, como disse João Paulo II; e a família sendo destruída de muitas formas (ideologia de gênero, casamento de pessoas do mesmo sexo, inseminação artificial, divórcio, aborto, eutanásia, camisinha, útero de aluguel, útero artificial, manipulação de embriões, uniões livres sem casamento). Será que não está na hora de alertarmos mais o povo sobre tudo isso?

Jesus disse que “a verdade vos libertará”. São Paulo disse que “Deus quer que todos se salvem, mas cheguem ao conhecimento da verdade” (1Tm 2,4). E disse que “a Igreja é coluna e o fundamento da verdade” (1 Tm 3,15). Nosso Catecismo diz que “a salvação está na verdade” (n. 851).

São Paulo recomenda a Timóteo que “pregue a palavra, oportuna e inoportunamente, repreende, ameaça, exorta com toda paciência e empenho de instruir. Porque virá tempo em que os homens já não suportarão a sã doutrina da salvação” (2Tm ,1-4). Estamos vivendo esses tempos, e São Gregório Magno nos alerta sobre isso!

Fonte: http://cleofas.com.br/nao-se-pode-calar-sobre-a-verdade/

  

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