Homilia do Papa Leão XIV na Missa com os Cardeais Eleitores na Capela Sistina em 9 de maio

O papa americano começou sua homilia falando em inglês.

Nota do editor: O Papa Leão XIV proferiu esta homilia em sua primeira missa como Papa na Capela Sistina em 9 de maio, na manhã seguinte à sua eleição como 267º sucessor de São Pedro, dirigindo-se aos cardeais eleitores que o escolheram.

“Começarei com uma palavra em inglês, e o restante em italiano. Mas quero repetir as palavras do Salmo Responsorial: “Cantarei um cântico novo ao Senhor, porque ele fez maravilhas.” 

E, de fato, não apenas comigo, mas com todos nós. Meus irmãos Cardeais, ao celebrarmos esta manhã, convido-os a reconhecer as maravilhas que o Senhor realizou, as bênçãos que o Senhor continua a derramar sobre todos nós por meio do Ministério de Pedro. 

Vocês me chamaram para carregar essa cruz e para ser abençoado com essa missão, e sei que posso contar com cada um de vocês para caminhar comigo, enquanto continuamos como Igreja, como uma comunidade de amigos de Jesus, como crentes para anunciar as Boas Novas, para anunciar o Evangelho.

[Continuando em italiano] “Tu és o Cristo, o Filho do Deus vivo” (Mt 16,16). Com estas palavras, Pedro, interrogado pelo Mestre, juntamente com os outros discípulos, sobre a sua fé nEle, expressou o patrimônio que a Igreja, através da sucessão apostólica, preservou, aprofundou e transmitiu ao longo de dois mil anos.

Jesus é o Cristo, o Filho do Deus vivo: o único Salvador, que sozinho revela o rosto do Pai. 

Nele, Deus, para se tornar próximo e acessível aos homens, revelou-se a nós no olhar confiante de uma criança, na mente viva de um jovem e nos traços maduros de um homem (cf. Gaudium et Spes, 22), aparecendo finalmente aos seus discípulos após a ressurreição com o seu corpo glorioso. Assim, mostrou-nos um modelo de santidade humana que todos podemos imitar, juntamente com a promessa de um destino eterno que transcende todos os nossos limites e capacidades.

Pedro, em sua resposta, compreende ambas as coisas: o dom de Deus e o caminho a seguir para se deixar transformar por esse dom. São dois aspectos inseparáveis ​​da salvação confiados à Igreja para serem proclamados para o bem do gênero humano. De fato, são confiados a nós, que fomos escolhidos por ele antes de sermos formados no ventre materno (cf. Jr 1,5), renascidos nas águas do Batismo e, superando nossas limitações e sem mérito algum, trazidos para cá e daqui enviados, para que o Evangelho fosse proclamado a toda criatura (cf. Mc 16,15).

De modo particular, Deus me chamou, por meio da vossa eleição, para suceder ao Príncipe dos Apóstolos e me confiou este tesouro para que, com a sua ajuda, eu possa ser o seu fiel administrador (cf. 1 Cor 4, 2) em benefício de todo o Corpo místico da Igreja. Ele o fez para que ela seja cada vez mais uma cidade situada sobre um monte (cf. Ap 21, 10), uma arca da salvação navegando pelas águas da história e um farol que ilumina as noites escuras deste mundo. E isso, não tanto pela magnificência das suas estruturas ou pela grandeza dos seus edifícios – como os monumentos entre os quais nos encontramos –, mas sim pela santidade dos seus membros. Pois nós somos o povo que Deus escolheu para si, a fim de anunciarmos as maravilhas daquele que nos chamou das trevas para a sua maravilhosa luz (cf. 1 Ped 2, 9).

Pedro, porém, faz sua profissão de fé em resposta a uma pergunta específica: “Quem dizem os homens ser o Filho do Homem?” (Mt 16,13). A pergunta não é insignificante. Ela diz respeito a um aspecto essencial do nosso ministério, a saber, o mundo em que vivemos, com suas limitações e potencialidades, suas questões e convicções.

“Quem dizem os homens ser o Filho do Homem?” Se refletirmos sobre a cena que estamos considerando, poderemos encontrar duas respostas possíveis, que caracterizam duas atitudes diferentes. 

Primeiro, há a resposta do mundo. Mateus nos conta que essa conversa entre Jesus e seus discípulos se passa na bela cidade de Cesareia de Filipe, repleta de palácios luxuosos, situada em uma magnífica paisagem natural aos pés do Monte Hermon, mas também um local de cruéis jogos de poder e palco de traições e infidelidades. Esse cenário nos fala de um mundo que considera Jesus uma pessoa completamente insignificante, na melhor das hipóteses, alguém com um modo de falar e agir incomum e marcante. E assim, uma vez que sua presença se torne incômoda devido às suas exigências de honestidade e às suas severas exigências morais, este “mundo” não hesitará em rejeitá-lo e eliminá-lo.

Depois, há a outra resposta possível à pergunta de Jesus: a das pessoas comuns. Para elas, o Nazareno não é um charlatão, mas um homem íntegro, corajoso, que fala bem e diz as coisas certas, como outros grandes profetas da história de Israel. É por isso que o seguem, pelo menos enquanto podem fazê-lo sem grandes riscos ou inconvenientes. No entanto, para elas, ele é apenas um homem e, portanto, em tempos de perigo, durante a sua paixão, também elas o abandonam e partem decepcionadas.

O que chama a atenção nessas duas atitudes é sua relevância hoje. Elas incorporam noções que poderíamos facilmente encontrar na boca de muitos homens e mulheres de nossa época, mesmo que, embora essencialmente idênticas, sejam expressas em línguas diferentes.

Ainda hoje, existem muitos cenários em que a fé cristã é considerada absurda, destinada aos fracos e ignorantes. Cenários onde outras garantias são preferidas, como tecnologia, dinheiro, sucesso, poder ou prazer.

Estes são contextos onde não é fácil pregar o Evangelho e testemunhar a sua verdade, onde os fiéis são ridicularizados, oprimidos, desprezados ou, na melhor das hipóteses, tolerados e tidos como objeto de pena. No entanto, precisamente por esta razão, são os lugares onde o nosso alcance missionário é desesperadamente necessário. A falta de fé é frequentemente acompanhada tragicamente pela perda do sentido da vida, pela negligência da misericórdia, por terríveis violações da dignidade humana, pela crise da família e por tantas outras feridas que afligem a nossa sociedade.

Hoje, também, existem muitos cenários em que Jesus, embora apreciado como homem, é reduzido a uma espécie de líder carismático ou super-homem. Isso se aplica não apenas aos não crentes, mas também a muitos cristãos batizados, que acabam vivendo, nesse nível, em um estado de ateísmo prático.

Este é o mundo que nos foi confiado, um mundo no qual, como o Papa Francisco tantas vezes nos ensinou, somos chamados a testemunhar a nossa fé jubilosa em Jesus, o Salvador. Por isso, é essencial que também nós repitamos, com Pedro: “Tu és o Cristo, o Filho do Deus vivo” (Mt 16,16).

É essencial fazer isso, antes de tudo, em nosso relacionamento pessoal com o Senhor, em nosso compromisso com um caminho diário de conversão. Depois, fazê-lo como Igreja, vivenciando juntos nossa fidelidade ao Senhor e levando a Boa Nova a todos (cf. Lumen Gentium, 1).

Digo isto, antes de tudo, a mim mesmo, como Sucessor de Pedro, ao iniciar a minha missão como Bispo de Roma e, segundo a conhecida expressão de Santo Inácio de Antioquia, chamado a presidir na caridade à Igreja universal (cf. Carta aos Romanos, Prólogo). Santo Inácio, que foi conduzido acorrentado a esta cidade, lugar do seu iminente sacrifício, escreveu aos cristãos de lá: «Então serei verdadeiramente discípulo de Jesus Cristo, quando o mundo já não vir o meu corpo» (Carta aos Romanos, IV, 1). Inácio falava de ser devorado por feras na arena – e assim aconteceu –, mas as suas palavras aplicam-se de forma mais geral a um compromisso indispensável para todos aqueles que, na Igreja, exercem um ministério de autoridade. É afastar-se para que Cristo permaneça, fazer-se pequeno para que Ele seja conhecido e glorificado (cf. Jo 3, 30), dedicar-se ao máximo para que todos tenham a oportunidade de O conhecer e amar.

Que Deus me conceda esta graça, hoje e sempre, pela amorosa intercessão de Maria, Mãe da Igreja.

https://www.ncregister.com/cna/full-text-first-american-pope-homily-pope-leo-xiv

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