A ROSÁCEA GÓTICA

“Outrora… outrora cantavam as catedrais

triunfantes de luz nas rosáceas, nos vitrais…” (1)

Uma rosa de pedra e de luz. Um arco iris perene encarnado na rocha dura. Rosácea gótica, coroa de glória para a Virgem Maria, na majestade da catedral medieval.

Quanta harmonia e quanta sabedoria há nessa flor maravilhosa de luz e de pedra!

Harmonia é a unificação de valores aparentemente opostos, e é isso o que a rosácea realiza: a rosa é tão delicada, mas tão passageira… A pedra é tão forte, mas é tão dura… Ah! Se a pedra tivesse brandura… Ah! Se a rosa durasse…

A alma medieval queria ofertar à Virgem Maria, Rosa Mystica e Turris Davidica, uma rosa perene, cheia de brandura e de força. E a Idade Média criou a rosácea, joia de harmonia, rosa de pedra, rosa eterna. Ela ofertou a Virgem humilde de Nazaré, Rainha dos anjos e dos homens, uma flor maravilhosa de pedra, que possuia a louçania e o esplendor da rosa, cheia de graça da luz e da graça das cores.

A rosácea gótica, unindo o perene e o fugaz, a delicadeza e a força, a dureza e a fragilidade, oferece à Virgem todas as qualidades, todas as virtudes, todas as graças.

Para a Virgem Rainha do Universo, a alma medieval ofertou a rosa da harmonia. E quanta sabedoria na rosácea radiante, esplendorosa em seus raios e em suas coroas de corolas concêntricas… A rosácea radiante é o modelo de uma estrutura gótica do universo.

Assim como a rosácea, o universo é teocêntrico. Deus Alfa e Ômega, princípio e fim de todas as coisas, é como um foco de luz do qual partem os raios das virtudes divinas refletindo-se em imagens nos anjos e nos homens, e em vestígios nos demais reinos da criação. E os anjos, os homens, os animais, os vegetais, e os minerais formam em torno de Deus coroas de glória, coroas concêntricas de adoração, de enlevo e de ternura, refletindo cada uma a seu modo, as virtudes de Deus. E assim, desde os anjos até o menor grão de areia, tudo canta e tudo reflete a glória de Deus.

E a imagem de Nossa Senhora, posta diante e no centro da rosácea, significava que toda a glória do universo vinha de Deus através dela.

Significava que Maria Santíssima é como um prisma que refrata a luz divina comunicando a beleza dessa luz a todas as criaturas num arco iris universal de harmonia. Pois ela é a Mãe do Verbo de Deus, Lumen de Lumine, que veio à terra por seu intermédio. Por ser a Virgem a medianeira de todas as graças, a rosácea universal é por justiça sua coroa de glória. Por isso para ela a Idade Média ofertou a Rosa da Sabedoria.

Ave Maria, mediatrix potentíssima.

Ave Maria, fons omnis gratiae.

Ave Maria, gratia plena.(2).

Notas:

  1. O presente artigo é fruto do estudo de quatro antigos amigos meus nos anos 70. .Dois deles faleceram prematuramente. O terceiro, mais velho, um dos principais escritores, morreu em 2010.. Basearam-se no livro de Edgar de Bruyne “L’Estetique du Moyen Âge”. O trabalho tem duas partes, “a coruja e o rouxinol”. Na primeira expõem a teoria do belo na Idade Média, na segunda a ilustraram com diferentes análises. “A Rosácea” é um exemplo. Espero que o trabalho todo seja publicado. Na minha opinião, faria muito bem.
  • Escolhi o artigo tendo em base comentário de meu amigo André Faleiro no FB. Ele leu o artigo “Hugo de São Vitor”  publicado aqui no site dia 17 p.p. Disse ele: “ Não gostei. O autor do artigo, Lanzieri, me dá a impressão de um intelectual acadêmico que ficou incapacitado de tratar sobre a Idade Média de modo a fazer o leitor admirar as luzes dessa época.”  De momento não entro na análise de visão de história do professor medievalista. Apenas transcrevi o artigo sobre “A Rosácea” porque ele mostra o lado luminoso e sacral da Idade Média.

Para facilitar segue o link do artigo anterior:

Tags , , , .Adicionar aos favoritos o Link permanente.

Deixe um comentário