CARDEAL RATZINGER E OS CÃES MUDOS: “CAMUFLAR CONFLITOS É UMA IDEIA HORRÍVEL”

No livro “O Sal da Terra” o cardeal Ratzinger, então Prefeito da Congregação para a Doutrina da Fé, faz uma crítica aos bispos que, para evitar conflitos, deixam o mal se espalhar. Faz 19 anos que a advertência foi feita. Foi ouvida?  

“Atualmente, fala-se muito da missão profética da Igreja. Às vezes, abusa-se dessa expressão. Mas é verdade que a Igreja nunca deve, simplesmente, pactuar com o espírito do tempo. Tem de denunciar os vícios e os perigos de uma época; tem de interpelar a consciência dos poderosos, mas também dos intelectuais e daqueles que vivem, de coração estreito e confortavelmente ignorando as necessidades da época. Como bispo, senti-me obrigado a cumprir essa missão. Além disso, os déficits eram flagrantes: desânimo da fé, diminuição das vocações, queda do nível moral, sobretudo entre as pessoas da Igreja, tendência crescente da violência e muitas outras questões. Lembro-me sempre das palavras da Bíblia e dos Padres da Igreja, que condenam, com grande severidade, os pastores que são como cães mudos e que, para evitar conflitos, deixam que o veneno se espalhe. A tranquilidade não é a primeira obrigação de um cidadão, e um bispo que só estivesse interessado em não ter aborrecimentos e em camuflar, se possível, todos os conflitos, é para mim uma ideia horrível (RATZINGER, Joseph. O Sal da Terra: o Cristianismo e a Igreja Católica no limiar do terceiro milênio: um diálogo com Peter Seewald. Rio de Janeiro: Imago, 1997, p. 67).

 

 

 

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