O AVANÇO DO PROGRESSISMO NA IGREJA. Artigo 2

Valter de Oliveira

Quadros comparativos entre a Reforma e o Progressismo

Como dissemos no final do artigo 1 desta série (1), este segundo artigo fará uma comparação entre algumas teses protestantes e as  teses progressistas dos anos 60 e 70. Ela permitirá que vejamos mais claramente a afinidade espiritual e a relação doutrinária entre os dois movimentos.

  1. Negação da Igreja Infalível, do Papado e da Hierarquia Eclesiástica
  Pseudo-Reforma   – Lutero negou o Papado – bem como toda a hierarquia eclesiástica – com a sua teoria do livre exame, pois a partir daí cada um se tornava Papa de si mesmo. Todos eram iguais porque “pelo batismo, todos recebemos o sacerdócio” (DTC – Dictionnaire de Théologie Catholique, col 1297).   – “Eu não posso aceitar regras para interpretar a palavra de Deus; ela que ensina a liberdade de todos”.                       – “Não são só os preceitos cerimoniais que não são uma lei boa e onde não se encontra a vida, é no próprio decálogo, e de tudo isso que pode se ensinar e se prescrever dentro ou fora. Uma lei boa e onde se acha a vida, é a caridade de Deus espalhada pelo Espírito Santo nos corações” (Funck-Brentano, Lutero, 187).  Progressismo   – “Nenhuma Igreja é infalível, e muito menos nenhum chefe da Igreja” (o Papa) (Curso catequético experimental, em uso nas dioceses de Herzogenbusch e Breda, Holanda, La Chie -sa nel Mondo, nº 43, 1972).   – “Nada está mais longe da Igreja de Cristo – comunidade fraterna – do que um regime de monarquia absoluta ou qualquer outro regime autoritário que seja, porque o Evangelho é o anúncio da liberdade, do fim de todo poder do homem sobre homem, da igualdade entre todos os homens, filhos do mesmo Pai. Em vez disso, a instituição (a Igreja), muitas vezes demais instrumentalizou o Evangelho para sujeitar o homem. (…) O Evangelho de Cristo é a antítese do poder, de qualquer poder, também e sobretudo do poder religioso.”   (…) “A Igreja de Cristo o que é, senão um conjunto de comunidades de base, de todos os grupos humanos empenhados em todos os “fronts” da libertação do homem, mas em nada que os distinga dos outros homens? Um conjunto de comunidades unidas só pela fé em Cristo e pela caridade e nunca por laços de força e domínio”. (…) a Igreja não pode ser uma sociedade hierárquica, uma sociedade em que alguns homens têm poder sobre outros homens” (conferência de D. Gerardo Lutta, realizada em Milão, na livraria “Corsia dei Servi”, em 18-1-71 apud La Chiesa nel Mondo, nº 40, 1972 págs. 12, 13, 14).
  • Igreja Pobre, Primitiva.
    Pseudo-Reforma   – Diz (o historiador) Henri Dubief: “Bem ao contrário da evolução, Erasmo, Lefèvre, Lutero e Zwinglio, eram reacionários. Face aos conservantismos intelectuais e às vezes sociais, o que eles queriam encontrar, através de João Huss e Wyclif, era a Igreja Primitiva e o Evangelho livre dos sedimentos depositados por gerações de pecadores, a tradição, segundo eles, deformadora (pg. 12).   – Em uma de suas famosas 95 proposições afixadas em Wittemberg Lutero afirma: “Um Papa realmente consciente de seu dever distribuiria tudo quanto possui, chegaria ao ponto de pôr à venda a igreja de São Pedro para o bem de muitos dos que seus traficantes de indulgências despojam de seu dinheiro” (FB 50). Ademais, devido a suas vagas tendências platonianas vindas de Wyclif por João Huss, Lutero dirá que “a Igreja exterior é a Igreja do diabo”. Assim, ela deveria ser puramente espiritual.    Progressismo   -“Somente uma Igreja que renuncia a todas as riquezas, a todos os poderes, a toda pretensão de domínio – mesmo ao interno, sobre a consciência – pode anunciar a salvação de Cristo”.             – “A Igreja é (…) uma comunidade em que o sacerdote e o bispo estão verdadeiramente ao serviço dos irmãos, nunca acima deles: sem honras particulares, sem títulos, sem sinais distintivos, sem palácios” (textos da conferência de D. Gerardo Lutte já mencionada).

Antes de tudo é curioso observar a contradição progressista neste seu desejo de pobreza. Afirmam que é preciso “desconstantinizar” a Igreja, que se corrompeu após o Edito de Milão passando a servir os interesses dos poderosos. Devemos voltar, então, a vivermos como os primitivos cristãos das catacumbas. Contudo – e aqui está a contradição – ensinam ao mesmo tempo que é preciso renovar a Igreja adaptando-a ao homem e à sociedade de hoje…

 “Aggiornamento”!

Já os modernistas, diz São Pio X na Pascendi, “desejam que o clero volte à antiga humildade e pobreza” (pg. 42). “Em geral, admoestam a Igreja de que, sendo o fim do poder eclesiástico todo espiritual, não lhe assentam bem essas exibições de aparato exterior e de magnificência, com que costuma comparecer às vistas da multidão. E quando assim o dizem procuram esquecer que a religião, conquanto essencialmente espiritual, não pode restringir-se exclusivamente às coisas do espírito, e que as honras prestadas à autoridade espiritual se referem à pessoa de Cristo que a instituiu” (pg 27). (2)

Na realidade, examinando mais profundamente a doutrina progressista, o que vemos nela não é um verdadeiro desejo de pobreza, nem de humildade, e muito menos de espiritualidade. O que há é um ódio profundo a toda a visão católica do universo que nos ensina que as magnificências da natureza e da arte, bem utilizadas pelo homem temperante, constituem meios de elevá-lo a Deus (…). O progressismo é gnóstico, e como é próprio de toda a doutrina revolucionária, se rebela, em última análise, contra o universo hierárquico criado por Deus e que é um espelho das perfeições divinas.

O despojamento da riqueza e dos símbolos que havia outrora nas cerimônias católicas, despojamento fruto da aplicação dos princípios progressistas, faz com que as igrejas construídas agora, segundo esse espírito, se pareçam extraordinariamente com os templos protestantes. Igrejas sem imagens, sem altar, sem sacralidade, sem beleza, vazias e frias como o espírito progressista.

Notas:

  1. https://www.claravalcister.com/dogma/o-avanco-do-progressismo-na-igreja-1/
  2. No texto da Pascendi então consultado – tal como no atualmente publicado pelo Vaticano – as citações não eram feitas por pontos. Daí ter colocado a página citada.
  3. No artigo 3 continuaremos a exposição comparativa. Temas que serão abordados: a missa, a confissão, a moral.

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