A CONDENAÇÃO DA ECLESIOLOGIA DE LEONARDO BOFF

Em março de 1985 a Congregação da Doutrina da Fé condenou a eclesiologia de Leonardo Boff.

Infelizmente, ela continua influenciando fortemente a vida interna da Igreja. Ela está presente em inúmeros livros que são ensinados em seminários e instituições religiosas. Impregna a ação de padres e bispos. Inclusive agora, no Sínodo da Amazônia.

Veja aqui, trechos do documento da Santa Sé.

PREMISSA DOUTRINAL

Leonardo Boff

(…) Examinadas à luz dos critérios de um autêntico método teológico — aqui apenas brevemente assinalados — certas opções do livro de L. Boff manifestam-se insustentáveis. Sem pretender analisá-las todas, colocam-se em evidência apenas as opções eclesiológicas que parecem decisivas, ou seja: a estrutura da Igreja, a concepção do dogma, o exercício do poder sagrado e o profetismo.

A ESTRUTURA DA IGREJA

Boff coloca-se, segundo as suas próprias palavras, dentro de uma orientação, na qual se afirma « que a igreja como instituição não estava nas cogitações do Jesus histórico, mas que ela surgiu como evolução posterior à ressurreição, particularmente com o processo progressivo de desescatologização » (p. 123). Consequentemente, a hierarquia é para ele « um resultado » da « férrea necessidade de se institucionalizar », « uma mundanização », no « estilo romano e feudal » (p. 71). Daí deriva a necessidade de uma « mutação permanente da Igreja » (p. 109); hoje deve emergir uma « Igreja nova » (p. 107,), que será « uma nova encarnação das instituições eclesiais na sociedade, cujo poder será pura função de serviço » (p. 108).

(…)

DOGMA E REVELAÇÃO

A mesma lógica relativizante encontra-se na concepção da doutrina e do dogma expressa por L. Boff. O Autor critica, de modo muito severo, « a compreensão doutrinária da revelação » (p. 73). É verdade que L. Boff distingue entre dogmatismo e dogma (cf. p. 139), admitindo o segundo e rejeitando o primeiro. Todavia, segundo ele, o dogma, na sua formulação, é válido somente « para um determinado tempo e circunstâncias » (pp. 127-128). « Num segundo momento do mesmo processo dialético o texto deve poder ser ultrapassado para dar lugar a outro texto do hoje da fé » (p. 128). (…) Para ele, “Enquanto perdurar este tipo de compreensão dogmática e doutrinária da revelação e da salvação de Jesus Cristo dever-se-á contar irretorquivelmente com a repressão da liberdade de pensamento divergente dentro da Igreja » (pp. 74-75).

(…)

No passado, esta Congregação teve ocasião de mostrar que o sentido das fórmulas dogmáticas permanece sempre verdadeiro e coerente, determinado e irreformável, embora possa ser ulteriormente esclarecido e melhor compreendido (cf. Mysterium Ecclesiae, n. 5: AAS LXV [1973], pp. 403-404).

Para continuar na sua função de sal da terra, que nunca perde o seu sabor, o « depositum fidei » deve ser conservado na sua pureza fielmente, sem deslizar no sentido de um processo dialético da história e em direção ao primado da praxis.

O EXERCÍCIO DO PODER SAGRADO

Uma «grave patologia » de que, segundo L. Boff, a Igreja romana deveria livrar-se, é provocada pelo exercício hegemônico do poder sagrado que, além de torná-la uma sociedade assimétrica, teria também sido deformado em si mesmo.

Dando por certo que o eixo organizador de uma sociedade coincide com o modo específico de produção que lhe é próprio, e aplicando este princípio à Igreja, L. Boff afirma que houve um processo histórico de expropriação dos meios de produção religiosa por parte do clero em prejuízo do povo cristão que, em consequência, teria sido privado de sua capacidade de decidir, de ensinar etc. (cf. pp. 75, 215 ss., 238-239). Além disso, após ter sofrido esta expropriação, o poder sagrado teria também sido gravemente deformado, vindo a cair deste modo nos mesmos defeitos do poder profano em termos de dominação, centralização, triunfalismo (cf. pp. 98, 85, 91 ss.). Para remediar estes inconvenientes, propõe-se um novo modelo de Igreja, no qual o poder seria concebido sem privilégios teológicos, como puro serviço articulado de acordo com as necessidades da comunidade (cf. pp. 207, 108).

(…)

O PROFETISMO NA IGREJA

Leonardo Boff

O livro « Igreja: Carisma e Poder » denuncia a hierarquia e as instituições da Igreja (cf. pp. 65-66, 88, 239-240). Como explicação e justificação para semelhante atitude reivindica o papel dos carismas e, em particular, do profetismo (cf. pp. 237-240, 246, 247). A hierarquia teria a simples função de « coordenar », de « propiciar a unidade, a harmonia entre os vários serviços », de « manter a circularidade e impedir as divisões e sobreposições », descartando pois desta função « a subordinação imediata de todos aos hierarcas » (cf. p. 248).

(…)

CONCLUSÃO

Ao tornar público o que acima ficou exposto, a Congregação sente-se na obrigação de declarar, outrossim, que as opções aqui analisadas de Frei Leonardo Boff são de tal natureza que põem em perigo a sã doutrina da fé, que esta mesma Congregação tem o dever de promover e tutelar.

O Sumo Pontífice João Paulo II, no decorrer de uma Audiência concedida ao Cardeal Prefeito que subscreve este documento, aprovou a presente Notificação, deliberada em reunião ordinária da Congregação para a Doutrina da Fé, e ordenou que a mesma fosse publicada.

Roma, Sede da Congregação para a Doutrina da Fé, 11 de Março de 1985.

Joseph Card. Ratzinger
Prefeito

+ Alberto Bovone
Arcebispo tit. de Cesare

Fonte: http://www.vatican.va/roman_curia/congregations/cfaith/documents/rc_con_cfaith_doc_19850311_notif-boff_po.html

Adicionar aos favoritos o Link permanente.

Deixe um comentário