“FAZER PARTE DO OPUS DEI NÃO PREJUDICA DE FORMA ALGUMA A FIDELIDADE ÀS DIOCESES”

Maria José Atienza

Entrevista com a numerária do Opus Dei Marta Risari. Ela é uma das 126 mulheres que participou do Congresso Extraordinário da Obra realizado em Roma no último mês de abril (1) com a finalidade de alinhar os seus estatutos com a constituição apostólica Predicate Evangelium.

Marta Risari participou, de 12 a 16 de Abril, do congresso geral extraordinário da Prelatura do Opus Dei. Esta reunião, convocada pelo prelado, Mons. Ocáriz, para adaptar os estatutos da Obra à recente constituição apostólica Praedicar Evangelium contou com a presença de cerca de 300 pessoas em Roma.

Os participantes do congresso, homens e mulheres de todo o mundo, examinaram ouviram as sugestões provenientes de membros da Obra em todo o mundo e abordaram as mudanças propostas pela Santa Sé através do Motu Proprio, Ad Charisma Tuendum.

Marta Risari

Risari sublinha nesta entrevista a sua convicção de que “as modificações que serão feitas servirão para explicar mais claramente a realidade do Opus Dei”.

É uma das congressistas, pode falar-nos dos seus antecedentes?

-Nasci em Milão, onde estudei Economia e Negócios na Universidade de Bocconi, e vivo em Roma há 20 anos. Tenho trabalhado na gestão de várias iniciativas universitárias e desde 2009 na Universidade do Campus Biomédico, uma iniciativa apostólica da Opus Dei, O cargo de Diretora Geral Adjunto da Policlínica Universitária.

Campus Biomédico de Roma

É um hospital na periferia sul de Roma que fornece serviços de saúde pública, com 400 camas, um departamento de urgências com mais de 30.000 internamentos por ano e todos os serviços de ambulatório. Em suma, uma experiência de gestão em cuidados de saúde com uma grande paixão pela formação de jovens, tanto entre estudantes como entre funcionários.

Como combinar esta vocação profissional com a sua vocação particular para o Opus Dei?

Os anos muito difíceis da pandemia, vividos a partir do interior na administração de um hospital onde tratamos mais de 1.300 doentes graves de Covid e estabelecemos caminhos seguros para continuar a cuidar de milhares de doentes com câncer, ajudaram-me a crescer na determinação de fazer do meu trabalho um serviço, procurando na oração a luz para tomar decisões diárias verdadeiramente orientadas para as necessidades dos que nos são próximos.

Sou frequentemente ajudada por um pensamento de São Josemaría que disse que por detrás dos relatórios médicos há pessoas para ajudar e às quais o Amor de Deus deve chegar. No meu caso é, talvez, ainda mais evidente porque quando estudo um documento, um relatório hospitalar, penso nos doentes, nas suas famílias, a quem também quero ajudar com a proximidade e  afeto.

Além disso, nos últimos dois anos coordeno  o trabalho da circunscrição feminina do Opus Dei no centro e sul de Itália. Em particular, dedico-me a escutar as pessoas da  Obra e isto leva-me a dar graças ao Senhor pois sinto com minhas   próprias mãos quão profundamente enraizado e vivido é o carisma do Opus Dei em tantas mulheres. Carisma de santificação no meio das realidades ordinárias, no trabalho, na família.

Em várias cidades, grandes e pequenas, no centro e sul de Itália, conheci muitas mulheres do Opus Dei, profissionais, aposentadas, mães de família, de várias idades e condições sociais, que tentam fazer da sua vida um serviço a Deus e aos outros, no meio dos milhares de problemas e sofrimentos da vida, mas com tanta simplicidade e com a alegria de quem sabe que é uma filha amada de Deus.

O congresso tem recebido sugestões de todo o mundo. Quais foram as questões mais frequentemente referidas?

-É para mim uma grande alegria ver quantas pessoas quiseram enviar sugestões para o congresso geral. É verdadeiramente um momento em que o Espírito Santo manifesta a sua luz. Tantas sugestões e considerações surgiram sobre os temas levantados pelo Motu Proprio, que mostram como o Espírito Santo está a manifestar a sua luz. O carisma do Opus Dei é a vida e a vida vivida.

Algumas pessoas sugeriram que nos Estatutos deveria ser dado mais espaço também a aspectos do carisma do Opus Dei que iluminam a normalidade quotidiana, a vida de oração no trabalho, o desejo de evangelizar o seu próprio mundo familiar e profissional, etc.

Dom Fernando

Muitas destas sugestões, como o Prelado nos escreveu, serão também objeto de estudo e desenvolvimento nos próximos anos, mesmo que não estejam especificamente relacionadas com as alterações aos Estatutos solicitadas pelo Papa.

Por exemplo, seria interessante especificar que os leigos são fiéis às suas dioceses (tal como qualquer outro leigo). Fazendo parte do Opus Dei nada impede que eles sejam fiéis às dioceses. Embora seja óbvio para nós, talvez não tenha sido tão explicitamente expresso nos Estatutos.

Neste sentido, as modificações que são feitas servirão para explicar mais claramente a realidade do Opus Dei. Em fidelidade ao carisma recebido pelo fundador.

No motu proprio “Ad charisma tuendum o Santo Padre refere-se ao carisma do Opus Dei como um dom do Espírito Santo para a Igreja. Como leiga e cientista, existe algum aspecto deste carisma que lhe pareça mais relevante para a evangelização do mundo de hoje?

-Um aspecto que gostaria de destacar é o tema da amizade e confiança como uma característica específica e essencial da obra evangelizadora do Opus Dei, tal como o fundador a viu.

Parte do nosso carisma é trazer amizade com Jesus às nossas amizades, na simplicidade e verdade: há muitas ocasiões em que podemos ajudar e ser ajudados a redescobrir o Amor e a confiança em Deus.

Por vezes é suficiente abrir-se  um pouco, dizendo com simplicidade o que está no nosso coração, àqueles que partilham conosco um momento da nossa vida, na família, nas relações sociais ou profissionais. 

Ou seja, proximidade e amizade com muitas pessoas de todos os tipos, e empenho no trabalho profissional. Dois elementos que, com a graça de Deus, têm um grande potencial na evangelização.

https://omnesmag.com/pt/noticias/interview-risari-opus-dei/

PS: A entrevista foi adaptada para o passado porque foi feita em abril. O Congresso já ocorreu e suas decisões foram entregues para o Dicastério do Clero, ao qual a Obra passa agora a ser subordinada.

Ver também:

https://opusdei.org/pt-br/article/termina-o-congresso-geral-extraordinario-do-opus-dei/

Maria José Atienza é editora chefe da revista Omnes. https://omnesmag.com/pt/author/mjose/

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