OS SANTOS, O PODER TEMPORAL E OS DIREITOS DA FÉ

Santo Ambrósio impedindo Teodósio de assistir à missa. Tela de Antoon Van Dyck
Imperador Teodósio e Santo Ambrósio

Em toda a sua história a Igreja teve que se defrontar com o poder temporal. Nos  seus  primeiros séculos de vida ela foi brutalmente perseguida,  apesar do fato dos cristãos serem súditos fiéis e corretos. Depois, recebeu a liberdade e, logo após, o cristianismo foi oficializado como religião do Império. Terminaram os problemas? Não. Apesar da união a Igreja teve tristes confrontos com o poder temporal. Hoje publicamos a luta de Santo Ambrósio em face do imperador romano. O santo soube portar-se com a grandeza de um verdadeiro bispo. (V.O.)

  1. SANTO AMBRÓSIO

“O homem que melhor encarnou, sob todos os aspectos, o cristianismo do séc. IV (…), foi incontestavelmente Ambrósio, o grande santo de Milão. Aquele de quem o imperador Teodósio viria a dizer, depois do conflito dramático que os opôs: “De todos os que conheci só Ambrósio merece ser chamado bispo”, esse homem foi o exemplo vivo e a expressão perfeita da elite cristã que, ligada por todas as fibras às bases da civilização, mas transformando-as todas por uma intenção renovada, soube assumir sozinha as responsabilidades da época e tomar a opção sobre o futuro”

Nascido de família patrícia, ‘destinado desde a juventude à carreira das honras públicas” era de família cristã. Nasceu em “Tréveris, onde seu pais exercia a prefeitura das Gálias”.  “Ambrósio era cristão, sim, em primeiro lugar por tradição de família”. Apesar disso, “aos trinta anos ainda não recebera o batismo. Em contrapartida, a sua carreira civil mostrava-se promissora visto que, após sólidos estudos clássicos e jurídicos, tivera uma rápida promoção”.

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Valentiniano I

“Em 374, a sede episcopal (de Milão) ficou vaga, devido à morte de um bispo ariano, e a luta entre católicos e hereges ameaçou degenerar em drama. Valentiniano I aconselhou os bispos a escolher em paz “um homem cuja vida pudesse servir de exemplo”. Os membros dos dois grupos, contudo, narra Daniel-Rops,  começaram feroz discussão. “Ambrósio teve de comparecer à sala das sessões para pedir calma, na sua condição de magistrado. Quando chegou, ouviu-se do meio da multidão um grito como de criança: “Ambrósio bispo!”  Ressoou tal clamor de aprovação que os dois partidos compreenderam que era mais prudente fazerem-se eco da gritaria. “Ambrósio bispo!”  Este bem ponderou que não era batizado, que era apenas um catecúmeno, que teriam de esperar até que recebesse as ordens e que as suas funções oficiais o inabilitavam. De nada valeram os argumentos. A sua integridade, o seu espírito de justiça apontavam-no como o chefe cristão por excelência. E submeteu-se”.

“Seria bispo, na inigualável plenitude do termo, durante vinte e quatro anos. Nenhum homem de seu tempo possuiu, sem dúvida, tantas qualidades para assumir as diferentes funções episcopais. (…) Excelente administrador, deu à sua fé, (…) uma autoridade cujo prestígio a diocese de Milão conservou até os nossos dias”.

“Habituado também ao poder e aos modos da aristocracia soube ter notável relações – diplomáticas, diríamos hoje – com nobres e imperadores,  (…) por quem tinha uma sincera afeição. Foi “confidente de Graciano, quase tutor do jovem Valentiniano II, amigo de Teodósio, exerceu uma grande influência sobre todos eles” (…).

Mas… um belo dia… teve que enfrentar o poder temporal. O que houve?

“Em agosto de 390, por um motivo fútil – a história de um jóquei que fora preso – estalou um motim em Tessalônica e foi morto um comandante militar, um gôdo. Furioso, Teodósio mandou reunir toda a população no circo, sob pretexto de um espetáculo, e ordenou que a chacinassem. Informado previamente deste plano bárbaro, Ambrósio protestou e, de início, pareceu que seria atendido. Mas, devido à intervenção de um dos seus ministros, Teodósio acabou por mandar que a ordem fosse cumprida. Os soldados espalharam-se pela cidade e assassinaram cerca de sete mil pessoas, incluindo mulheres e crianças. Tal crueldade de parte de um príncipe cristão constituiu um autêntico escândalo. Ambrósio chamou a si o assunto e em nome da moral de Cristo estigmatizou o crime. Teodósio foi excomungado. Depois, numa carta particular, o bispo intimou o imperador a reconhecer a sua falta e assegurou-lhe que seria absolvido e readmitido na comunhão dos fiéis se viesse pedir-lhe perdão.

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Arrependimento de Teodósio

Durante um mês, apoiado por cortesãos legistas, Teodósio mostrou-se renitente. Mas os remorsos de consciência foram mais fortes. E assim, na noite de Natal de 390, o imperador mais poderoso da terra despiu suas vestes suntuosas e, revestido do mísero traje dos penitentes públicos, declarou o seu arrependimento na praça pública de Milão, para ser reintegrado na caridade de Cristo. A Igreja triunfava definitivamente pela voz do grande bispo”.

Notas:

  1. Fonte: ROPS- Daniel. A Igreja dos Apóstolos e dos Martires (vol. I da História da Igreja). Quadrante, SP, 1988, p. 564-567).

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